Nos dias 5 e 6 de outubro arrancou o primeiro Cryptoeconomic Systems Summit no MIT.
Bitcoin e as tecnologias blockchain [ao que eu incluo a criptoeconomia] começa a surgir como uma nova disciplina que está a captar a atenção de inúmeros investigadores, estudantes e profissionais das mais diversas áreas.
Mas exige um conhecimento multidisciplinar de áreas até então complemente separadas, algumas nem partilham as mesmas faculdades (como nas universidades portuguesas). Falamos por exemplo em áreas tão distintas como a programação, economia e direito.
Entretanto um número crescente de artigos científicos (white papers) relacionados com blockchain e os criptoativos continua a crescer e isso torna mais difícil para newcommers. Mais, os próprios canais muitas vezes estão muito dispersos (p.ex. papers partilhados por anónimos em canais de IRC obscuros).
Apresentam ainda uma nova revista científica, Cryptoeconomic Systems journal.
Seguem NOTAS da primeira conferência (com algumas opiniões minhas):
It’s All About Decentralized Trust – por Ittai Abraham (CES Summit ’19):
1) Segue o Dinheiro (Follow the Money)
Já algum tempo que cripto não é brincadeira nenhuma, existe já muito dinheiro em projetos blockchain e torna-se importante conhecer a motivação por detrás dos projetos. Nesta temática, a transparência surge como solução para tudo. Mas esta suposta panaceia tem também as suas limitações. Ser-se transparente por si só não é suficiente, todos nós conhecemos n casos de projetos apresentados em fóruns livres e abertos a críticas que depois conseguem criar uma imagem de aparência de validação pela comunidade para no final se descobrir que o projeto continha falhas fundamentais ou era uma fraude.
A mesma situação está susceptível de acontecer no meio académico, a transparência ligada ao conflito de interesses por via de colaborações. Quanto tempo após uma colaboração para ser válida a participação numa peer-review? (1 ano?) (2 anos?)
Abraham conclui dizendo que outra das chaves é a Reprodutibilidade (Reproducibility), muito mais importante do que as reivindicações (claims) que constam nos papers em cujo processo de review é em muito semelhante às comunidades de open source.
2) Os pilares académicos dos sistemas criptoeconómicos e da tecnologia blockchain
Em 2007 numa conferência na Microsoft, Abraham apresentou este slide:
Economia -> estudo sobre como as pessoas reagem a escassez e a incentivos (microeconomia -> game theory & macroeconomic -> monetary theory). Tradicionalmente a Economia não é boa avaliar protocolos e software, é mais avaliar o que pessoas fazer. É que aqui que entra a criptografia entra -> a capacidade de substituir o Sistema de confiança tripla (soluções como zero knowledge proof – em que um terceiro verifica e avalia a prova e diz que é correta) – Universal composability e indistinguishability são noções matemáticas avançadas que capturam esta noção de substituição do sistema de confiança tripla.
“I believe this is a huge breakthrough for Humanity, this ability to replicate a trusted third parties”
– Ittai Abraham
3) O que é confiança descentralizada (Decentralized trust)?
“The proof-of-work chain is a solution to the Byzantine Generals’ Problem. I’ll try to rephrase it in that context”– Satoshi Nakamoto (2008)

Byzantine General’s Problem => Decentralized Trust.

Significa não depender de uma única entidade ou servidor único. A infraestrutura fornece segurança, vivacidade, imutabilidade e privacidade, mesmo que uma pequena fração do poder de voto seja comprometida e conivente com o atacante.
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Vivacidade (Liveness) – “good thing eventually happen” um adversário não consegue bloquear o progresso ou negar o serviço;
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Segurança (Safety) – “avoid the double-spending attack” um adversário não pode causar desacordo;
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Imutabilidade (Immutability) – “policy changes require consensus” um adversário não pode alterar as regras;
- Privacidade (Privacy – Privacy guaranties) – “obtains the right privacy balance” um adversário não pode saber mais.
- Modelo tradicional de “permissão”, em que o adversário controla fração dos membros
- A revolução do bitcoin, resolução de problemas criptográficos relativamente difíceis, o adversário controla a fração da CPU
- Chamado modelo sem permissão (ou “permissionless”)
- Permite punição por “corte”, adversário controla fração do stake
- Muitas novas definições, juntamente com novos problemas criptográficos (Proof of space-time, Proof of replication, etc…)
As grandes questões Macroeconómicas (as minhas preferidas 🙂 ):
1) Como alteramos de forma a que a um maior poder económico este corresponda a um maior poder de voto?
(Como evitar monopólios? Como evitar subornos? Como evitar alguém que já tem muito poder o use para comprar votos?)
2) Como evitar essa concentração em que um grupo pequeno de pessoas com grande poder financeiro passa a deter a maioria dos direitos de votos?

Abraham fala-nos de 3 camadas diferentes (por ordem crescente de complexidade):
- Distributed applications
- Smart contract execution engine (Pluggable, privacy)
- Byzantine Fault Tolerance (BFT) State Machine Replication (SMR) (Reconfiguration, Cross-chain Sharding)
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Criptografia mais moderna;
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Capacidade de chegar a um consenso em um round (latencia mais baixa e muito eficiente);
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Benchmarks com contratos EMV.

Aproveito para deixar a Página Oficial do evento em: https://cryptoresearch.pubpub.org
O próximo CES Summit será no início de março de 2020 em Boston: Cryptoeconomic Systems (CES) ’20
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